O envelhecimento é um processo natural e progressivo caracterizado por modificações morfológicas, psicológicas, funcionais e bioquímicas que influenciam a nutrição e alimentação dos mesmos. Todo este processo leva ao aumento do risco de défices nutricionais.
Um estado nutricional inadequado no idoso contribui de forma significativa para o incremento da incapacidade física, da morbilidade e da mortalidade, condicionando assim a sua qualidade de vida. A desnutrição no idoso pode ser confundida com sinais de envelhecimento, por isso, é importante o reconhecimento precoce para que possa ser corrigida atempadamente.
Os fatores que condicionam o estado nutricional são:
- Fatores ambientais: Habitação inadequada, falta de meios para confecionar refeições, dificuldade de acesso a géneros alimentícios;
- Fatores neuropsicológicos: Doenças neurológicas, diminuição das capacidades cognitivas, depressão, alteração do estado emocional.
- Fatores socioeconómicos e culturais: Baixo nível de educação, baixos rendimentos, acesso limitado a cuidados médicos, falta de conhecimentos alimentares/nutricionais, institucionalização, crenças, elevados gastos de saúde.
- Fatores fisiológicos: Saúde oral, imobilidades, perda de massa muscular, diminuição da densidade óssea, função imunitária, ph gástrico.
A diminuição da ingestão alimentar por parte dos idosos pode ocorrer em consequência de vários fatores, a saber: problemas de mastigação, de deglutição, perda ou diminuição de capacidades sensoriais (visão, olfato, paladar), patologias físicas, mentais e psiquiátricas, alterações gastrointestinais, desidratação, tabaco e bebidas alcoólicas e medicamentos.
A polimedicação, ato frequente nesta fase da vida, pode interferir no estado nutricional ao nível da absorção e metabolismo de vários nutrientes pela sua interação fármaco-fármaco, fármaco-alimento, fármaco-estado nutricional.
Avaliação do estado nutricional
O estado nutricional do idoso pode ser avaliado por um profissional de saúde através de 4 níveis, a saber:
- Avaliação clínica e funcional: exames clínicos e físicos, avaliação da autonomia e independência do idoso e estado cognitivo;
- Avaliação da ingestão alimentar: os alimentos que consome, as quantidades, refeições diárias;
- Avaliação antropométrica e da composição corporal: medição do peso, altura, massa gorda, massa muscular, perímetros da cintura, anca, braços, pernas;
- Avaliação bioquímica e imunológica: Análises clínicas.
Necessidades nutricionais no idoso
Na terceira idade, é comum ocorrer uma diminuição das necessidades energéticas, pela igual diminuição dos mecanismos fisiológicos do organismo. O decréscimo da atividade física e eventual perda de massa muscular é também razão para uma dieta com menos calorias. No entanto, as necessidades em vitaminas e minerais podem aumentar, especialmente vitaminas do complexo B (b6 e b12), vitamina D, E, K e minerais como cálcio, ferro e zinco.
Recomendações alimentares no idoso
A alimentação do idoso deve ser completa, equilibrada, variada e baseada na Roda dos Alimentos Portuguesa, consumindo diariamente alimentos dos 7 grupos. Os idosos devem guiar-se pelas porções intermédias de cada grupo alimentar. É recomendado que façam entre 5 a 6 refeições diárias: pequeno-almoço, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia.
Idealmente o pequeno-almoço e lanches deverão ser compostos por uma fonte de proteína (leite, iogurte, queijo), uma fonte de hidratos de carbono (pão, aveia, bolachas) e uma peça de fruta. O almoço e jantar deverão ser compostos por uma sopa de legumes, prato constituído por uma fonte de hidrato de carbono (arroz, massa, batata, batata-doce), uma fonte de proteína (carne, peixe, ovo), legumes e leguminosas. Para sobremesa optar por uma peça de fruta e ocasionalmente por uma sobremesa com pouco açúcar. A ceia deve ser uma refeição leve como por exemplo um chá e umas bolachas.
A ingestão de água deve ser reforçada, 1.5L/dia, pois os idosos têm elevado risco para a desidratação pelas possíveis perdas de líquidos e pela baixa perceção de sede.
Outras recomendações que pode seguir:
- Não saltar refeições;
- As refeições devem ser pouco volumosas e facilmente digeríveis;
- Ingerir fruta e hortícolas;
- Adaptar a consistência dos cozinhados quando existirem dificuldades na mastigação, deglutição e digestibilidade;
- Preparar as refeições com diferentes cores, sabores, formas, texturas e aromas;
- Fazer as refeições com companhia, sempre que possível, e num ambiente calmo e agradável;
- Utilizar ervas aromáticas, especiarias e sumo de limão para temperar os cozinhados (evitando o excesso de sal);
- Beber água regularmente;
- Moderar o consumo de açúcar, sal, gorduras e bebidas alcoólicas;
- Preparar mais quantidade das refeições e congelar as porções em recipientes individuais para outras ocasiões;
- Confecionar bem os alimentos (ovos, carnes, peixe e marisco), para evitar toxi-infeções alimentares;
- Fazer uma caminhada antes das refeições para estimular o apetite;
- Estar atento às alterações do apetite;
- Incentivar o consumo de pratos tradicionais portugueses adequados do ponto de vista nutricional que incluam leguminosas e hortícolas;
- Estar atento às modificações involuntárias do apetite ou de peso;
- Ser fisicamente ativo, de acordo com as capacidades individuais.
Adaptações na alimentação do idoso
As refeições dos idosos devem ser adaptadas às suas dificuldades ou não de mastigação, deglutição e digestibilidade, e para isso é, muitas vezes, necessário a alteração da consistência dos alimentos.
Os alimentos do grupo dos cereais, como o arroz, massa, aveia, pão, batata devem ser bem cozinhados e transformados em puré (no caso da batata) ou misturá-los com líquidos como o leite, chá ou água, em sopas e caldos. A fruta deve ser oferecida mais madura, cozida ou assada, bem como os legumes devem ser muito bem cozinhados e oferecidos em sopa ou misturados com outros alimentos. O alimento rico em proteína, como o caso da carne/peixe/ovo oferecê-los bem cozinhados, cortados em pedaços pequenos e misturados por exemplo na sopa ou em caldos, pois nesta fase pode haver uma rejeição por parte dos idosos a estes alimentos. As leguminosas, fonte igualmente de proteína, trituradas seriam uma melhor opção para melhorar a digestibilidade. Relativamente ao consumo de lacticínios optar pelos magros e moderar o consumo de gordura e produtos industrializados.
O envelhecimento não deverá ser visto como um problema, mas como uma parte natural do ciclo de vida, por isso o cuidado com a nossa saúde será uma mais-valia para viver de forma autónoma o maior tempo possível.
Autor: Drª Jéssica Fernandes, Nutricionista (NO 3663N).