por Júlio Dutra
A doença de Alzheimer é uma condição neurológica degenerativa que afeta predominantemente idosos. Sua progressão gradual resulta em perda de memória, deterioração da função cognitiva e, eventualmente, restrições na autonomia pessoal. Isso é abordado em detalhes por Nancy L. Mace e Dr. Peter V. Rabins em “O Dia de 36 Horas”, um guia considerado leitura obrigatória para famílias de pessoas que convivem com demência. Com base em experiências individuais e pesquisa bibliográfica, este artigo aborda as consequências do Alzheimer no idoso e reflete sobre a qualidade de vida impactada pela fragilidade associada à idade.
Relação com o Idoso
O Alzheimer desafia a dignidade e a capacidade de viver de forma independente. Idosos, como Marly Dutra, minha mãe de 84 anos, que já foram capazes e autônomos, tornam-se dependentes de cuidados. Este processo não só altera a vida do paciente como também transforma a dos cuidadores, muitas vezes familiares, que precisam se adaptar a novas rotinas de cuidados diários e à redefinição de papéis dentro da família, conforme destaque de Maureen Bradley.
Histórico Pessoal
Minha experiência nos últimos três anos, cuidando da minha mãe acometida pelo Alzheimer, tem sido de constante transformação. Não se trata apenas de assistir, mas de participar de uma revolução nos hábitos, na higiene, na saúde, e na forma de pensar. Cuidar de um ente querido com Alzheimer vai além de fornecer cuidados físicos; envolve um impacto emocional profundo, exigindo paciência, amor, e uma redefinição dos valores e perspectivas humanas sobre dignidade e finitude, algo discutido por Jolene Brackey em “Criando Momentos de Alegria”.
Necessidade de Cuidados Especiais e Multidisciplinares
A abordagem de cuidados especiais e multidisciplinares torna-se fundamental, especialmente em situações onde a complexidade das necessidades de saúde se intensifica. Idosos com Alzheimer ou outras condições semelhantes exigem uma rede de suporte que vá além do cuidado doméstico básico. A criação de um espaço dedicado e planejado para os sócios da DAPIBGE, visa preencher essa lacuna, oferecendo um local seguro e bem-equipado que permita um cuidado abrangente e humanizado. Esta iniciativa busca fornecer um ambiente que atenda às necessidades físicas, emocionais, cognitivas e médicas, respeitando a individualidade de cada associado e sua condição de saúde física e mental.
A implementação de um projeto desse tipo requer um planejamento cuidadoso, garantindo que as instalações sejam capazes de oferecer cuidados multidisciplinares, integrando profissionais de saúde, terapeutas ocupacionais, psicólogos e assistentes sociais. Essa abordagem holística é fundamental para promover a melhor qualidade de vida possível para esses indivíduos, oferecendo-lhes apoio em todos os aspectos de suas vidas.
Consequências e Qualidade de Vida
As consequências para a qualidade de vida são vastas. A fragilidade do idoso com Alzheimer manifesta-se na perda gradual de habilidades cognitivas, provocando sentimentos de tristeza, frustração e isolamento. Segundo David Solie em “Como Dizer Isso aos Idosos”, a comunicação entre cuidadores e idosos pode ser essencial para manter um ambiente emocionalmente saudável. Para os cuidadores, pode ser uma experiência emocionalmente extenuante, caracterizada por luto antecipatório e sobrecarga.
A Finitude no Alzheimer
A finitude no Alzheimer não se marca apenas pela morte física, mas por perdas simbólicas ao longo da trajetória da doença. As mortes simbólicas da lembrança, da fala, da autonomia e da identidade pessoal são desafios contínuos para o idoso e seus cuidadores.
Transformação e Reflexões Futuras
A experiência transforma a perspectiva da vida e os relacionamentos humanos. Para uma associação focada na assistência , como a nossa, preparar-se para enfrentar os desafios desta condição crescente é essencial. A realidade de se preparar para cuidar de si mesmo ou de outros no futuro é uma questão prática e emocional que requer preparação, como orientado por Bradley.
Cuidar de alguém com Alzheimer e/ou outras necessidades especiais, exige mais do que ações práticas; demanda amor e compaixão contínua. A relação de cuidado transforma-se em um ato de eternização das memórias e experiências que continuam presentes no corpo, mesmo quando a mente já se esqueceu. Refletir sobre o futuro e sobre quem cuidará de nós quando não pudermos mais é um exercício necessário e humano é uma preocupação estratégica da presidência da DAPIBGE.
Dr. Júlio Dutra; Advogado, Jornalista, Escritor, Presidente do DAPIBGE; Rio de Janeiro, RJ – 06/11-25; 23:30 h
Referências:
MACE, Nancy L.; RABINS, Peter V. O Dia de 36 Horas: Um Guia Familiar para Cuidar de Pessoas com Doença de Alzheimer e Outras Demências, e Perda de Memória.
BRACKEY, Jolene. Criando Momentos de Alegria para a Pessoa com Alzheimer ou Demência: Um Diário para Cuidadores.
SOLIE, David. Como Dizer Isso aos Idosos: Superando a Lacuna de Comunicação com Nossos Idosos.