Esta semana, ‘Pantanal’, uma das novelas mais populares da televisão brasileira está encerrando sua segunda edição (a primeira foi ao ar na rede Manchete). A produção, criada originalmente por Benedito Ruy Barbosa, viralizou em diversos momentos nas redes sociais. Um dos mais fortes foi a “quase morte” do Velho do Rio, vivido por Osmar Prado.
O fato aconteceu quando o personagem tentou impedir uma grande queimada no Pantanal e o termo ‘queimada’ entrou para os termos mais comentados do Twitter.
Além de ser um risco para o Velho do Rio, sabia que as queimadas são a principal causa de emissões de carbono no Brasil?.
Qual a relação entre crise climática e emissões de carbono?.
Não adianta mais fugir: o principal desafio do nosso tempo é o enfrentamento da crise climática e seus impactos no planeta.
“Os tufões, furacões, secas prolongadas, chuvas intensas fora de período, que a gente começa a ver mais [frequentemente], tudo isso é consequência”, alerta Larissa Basso, pesquisadora de política climática associada ao programa Earth System Governance e ao Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP). “A gente nunca viu acontecer uma mudança dessa grandeza. É uma preocupação com o nosso futuro como espécie, e com o das outras espécies também”.
Projeções do Climate Action Tracker indicam que, com as políticas climáticas atualmente em curso no mundo, estamos em rota para um aumento de 2.7ºC na temperatura do planeta até 2100. E o maior vilão desse aquecimento tem nome: dióxido de carbono. O gás, que é justamente o mais emitido pela humanidade em suas atividades cotidianas, pode permanecer na atmosfera por séculos.
“Estamos ultrapassando a quantidade de emissões que é segura para a vida humana na Terra”, afirma Larissa. Se conseguirmos controlar esse aumento da temperatura, podemos ter um futuro mais previsível. “Se não, a ciência não sabe dizer o que vai acontecer”, diz.
O único caminho para prolongarmos nossa estadia em um planeta mais parecido com o que conhecemos hoje, aponta a pesquisadora, é a descarbonização, termo que ficou popular no debate climático recente. Mas afinal, o que significa descarbonizar?
O que é descarbonizar?
É reduzir e, eventualmente, eliminar completamente as emissões de gases do efeito estufa, em especial o dióxido de carbono, de diversos setores econômicos, sendo os mais relevantes a oferta de energia, o uso da terra, a agricultura, a indústria, os transporte e o manejo de resíduos.
A que passo estamos na descarbonização brasileira?
A descarbonização é um compromisso de 194 países que assinam o Acordo de Paris, em um esforço de limitar o aquecimento da Terra a 1.5ºC até o fim do século. O Brasil é um deles: sua mais recente meta, atualizada em março de 2022, é a de reduzir as emissões em 50% até 2030, em relação aos níveis de 2005, e atingir a neutralidade climática (ou seja, o equilíbrio entre a emissão e absorção que os sistemas naturais do planeta, como florestas e oceanos, fazem dos gases do efeito estufa) até 2050. A estes objetivos, se dá o nome de Contribuição Nacionalmente Determinada, ou NDC, na sigla em inglês.
E hoje, o Brasil está no caminho de cumprir com sua NDC? Para Walter de Simoni, diretor de articulação política e diálogo do Instituto Talanoa, a resposta é não. “No cenário onde repetimos o comportamento e as escolhas que foram feitas nos últimos quatro anos, a gente não alcança as nossas metas”, avalia. Um estudo do Instituto Talanoa e do Centro Clima da UFRJ indica que, se houver a continuidade das atuais políticas ambientais e climáticas, podemos estourar em até 130% a quantidade de emissões pretendida para 2030.
Mas ainda existe saída, segundo Walter. “É possível sermos muito mais ambiciosos, se a gente tomar decisões priorizando a questão climática e ao mesmo tempo gerando desenvolvimento e aumentando a qualidade de vida”, pontua. O mesmo estudo mostra que, com estratégia, podemos não só cumprir como ultrapassar a meta para 2030, chegando ao fim da década com 63% a 80% menos emissões do que em 2005.
O que precisamos fazer para descarbonizar o Brasil nos próximos anos?
No contexto global, os esforços de descarbonização geralmente se centram no setor de energia, que é o que mais gera emissões no mundo, priorizando, por exemplo, a transição de combustíveis fósseis para fontes renováveis. No Brasil, porém, a figura muda: por aqui, o maior emissor de carbono é o setor de uso da terra e florestas.
“Se a gente não contiver o desmatamento, não tem como descarbonizar. Este é o primeiro passo”, destaca a pesquisadora Larissa Basso. “Tem que haver um discurso que passe para a população a importância de manter a floresta em pé”. A Amazônia, por exemplo, é um elemento crucial para a estabilidade do clima e dos sistemas de precipitação na América do Sul, além de ser um dos principais redutos de biodiversidade do mundo. Ela adiciona que é essencial retomarmos políticas públicas de fiscalização, que foram muito efetivas para o controle do desmatamento entre 2005 e 2012, mas passaram a ser desmontadas nos últimos anos.
Walter de Simoni diz, ainda, que a descarbonização deve ser encarada de forma multidisciplinar. Ele sugere ações como a criação de uma secretaria estratégica para coordenar uma política climática transversal a todos os Ministérios; a precificação do carbono no setor industrial; a aceleração da transição energética nas áreas de mobilidade e logística e o fortalecimento de uma economia circular que otimize o uso de recursos e evite desperdícios, todas recomendações presentes no plano do Instituto Talanoa.
“Não há como lidar com a questão da mudança do clima sem que ela seja uma peça central na construção de toda e qualquer política”, diz. “Estamos no mesmo barco: ou todo mundo rema ou todo mundo perde o jogo”.
Todos nós podemos fazer escolhas cotidianas para acelerar a redução das emissões, que incluem priorizar o transporte público, tentar diminuir o consumo de carne, promover a reutilização e a reciclagem de materiais e reduzir o uso de plástico.
No entanto, tanto Larissa quanto Walter defendem que a descarbonização é um processo que depende de mudanças estruturais e muita vontade política, portanto, não podemos responsabilizar somente os indivíduos. “Não tem futuro sem baixo carbono; e o Brasil pode ser um líder nisso. Mas a gente tem que reorganizar as prioridades e realmente alinhar a nossa economia nesse sentido”, finaliza Larissa.
Fonte : ECOA UOL