Como Enfrentar o Tratamento do Silêncio

Você já passou por um desentendimento com a pessoa amada e acabou tendo que ouvir meias palavras, respostas secas ou simplesmente nada? Em caso afirmativo, é provável que já tenha sido vítima do tratamento do silêncio. Muitas vezes aplicado com o termo “dar um gelo”, o tratamento do silêncio é uma estratégia para ofender o outro ou para fugir de uma discussão sem abdicar de suas próprias opiniões. A vítima tende a se sentir invisível e manipulada. Por isso é importante que ela reivindique seu poder sobre a situação. Para tanto, será necessário adotar um estilo mais eficiente de comunicação, melhorar a autoestima e cortar qualquer tipo de abuso emocional que esteja em curso.

Método 1 – Quebrando o padrão incorreto de comunicação
1 Pare de mostrar reação. Embora muita gente pratique o tratamento do silêncio sem perceber seus efeitos nocivos ao relacionamento, tem quem o faça com a explícita intenção de magoar. Em ambos os casos, o fato da vítima começar a se desculpar — sem nem mesmo saber o que fez de errado – ou a implorar por atenção, só fortalecerá o comportamento do perpetrador.[1]
  • Em vez disso, aproveite o silêncio para tirar um tempo para si mesmo. Não demonstre raiva; não aja de modo passivo-agressivo, a fim de tentar fazer o outro voltar a falar com você; e não crie discussão. Apenas dê um tempo para que os dois consigam se acalmar.
  • Quando estiver perto de alguém que esteja dando um gelo em você, mantenha-se relaxado e positivo. Mesmo que você esteja sofrendo, não deixe transparecer.

2 Peça um momento para conversar sobre o assunto. Geralmente, quem precisa lançar mão do tratamento do silêncio não é capaz de comunicar suas vontades e necessidades de forma clara, por isso, tenta fazê-lo por meio de sinais. Pode ser que o objetivo do seu amigo ou parceiro não seja fazê-lo sofrer, talvez ele só queira um tempo para conseguir se recuperar das mágoas de uma discussão. De qualquer modo, assuma o papel de adulto da relação e faça aquilo que ele não é capaz de fazer: ter uma conversa racional sobre o problema.[2]

  • Diga: “No momento, nós dois estamos abalados, o que acha de tirarmos algumas horas para pensar e nos encontrarmos de novo às quinze horas para terminar essa conversa racionalmente?”.
  • Tal atitude terminará automaticamente com o tratamento do silêncio, pois os dois estarão concordando em tirar algumas horas para pensar e retomar a conversa mais tarde, quando estiverem de cabeça fria.

3 Tente enxergar o outro lado da história. Lembre-se de que a comunicação é uma via de duas mãos. Se o seu parceiro resolveu evitar o contato com você, significa que ele pode estar magoado. Por isso, tente trocar de lugar com ele e ver o cenário através da perspectiva dele.

  • Tente se lembrar do que aconteceu entre vocês antes de começar o gelo. O que ele disse? Qual foi a sua resposta? Se estivesse no lugar dele, como se sentiria?[3]
  • Por exemplo, digamos que seu objetivo fosse conseguir autorização para ir a uma festa. Por essa razão, você resolveu pressionar sua mãe insistentemente até ela não aguentar mais e colocar o tratamento do silêncio em prática. Agora, veja a situação do ponto de vista dela; você também não ficaria chateado com o seu comportamento?
  • Se ainda estiver incomodado com o gelo que tem recebido, converse com um amigo de confiança ou um familiar – mas lembre-se de escolher alguém que seja sincero e saiba ouvir.

4 Use frases que comecem com “Eu”. Toda essa situação pode acabar acendendo um comportamento passivo-agressivo em você também. Mas, não tente dar o troco, ignorando a outra pessoa; prefira uma abordagem mais pontual, comunicando a sua mensagem de maneira clara, para que ela possa romper a barreira do silêncio e ser compreendida.

  • Frases em cujo o sujeito seja o “Eu” tendem a ser práticas e a evitar colocar a culpa do problema no outro. O ideal seria dizer: “Eu me sinto muito pequeno e sem forças quando sou ignorado. Gostaria que pudéssemos compartilhar mais os nossos sentimentos, e não nos afastar. Se isso vier a se repetir, você poderia pedir um tempo em vez de me ignorar?”.
  • Ao conversarem, procure dar exemplo, respondendo sempre com gentileza, humildade, respeito e autocontrole. Evite tentar adivinhar as intenções do outro e acusá-lo.
Método 2 – Quebrando o padrão incorreto de comunicação

1 Identifique seu papel no ciclo. Aproveite o tempo do silêncio e reconheça — sem culpar-se — quais foram os padrões de comunicação que o trouxeram ao ponto em que se encontra. Uma vez feito isso, trabalhe para corrigi-los.

  • Tente voltar no tempo e observar seus padrões comportamentais durante as conversas.[4] Você, por exemplo, interrompia o outro sempre que ele estava prestes a dizer algo que você já imaginava saber? Nesse caso, a frustração de não poder falar pode tê-lo levado a querer se expressar através do silêncio.
  • A solução para minimizar seu papel seria aprender a escutar ativamente.[5] Não corte mais a fala dele, dê tempo para que ele se expresse completamente e, só então, responda.

2 Diminua a raiva para não piorar a situação. Sentir-se manipulado não é bom, e isso pode levar uma situação já desagradável para um caminho pior ainda – até perigoso. Reconheça que demonstrar raiva não melhorará em nada seu relacionamento. Por isso, use seu tempo de reflexão para acalmar os nervos.

  • Experimente algumas técnicas de relaxamento como imaginação guiada, respiração, relaxamento progressivo dos músculos e alongamento suave.[6]
  • Se precisar de mais tempo para se acalmar, tente fazer uma pausa de uma hora ou adiar a conversa para o dia seguinte – só não a postergue por muito tempo.


3 Estabeleça alguns limites pessoais. Fazê-lo aumentará suas chances de viver relacionamentos de acordo com aquilo que espera e, com isso, defender seus sentimentos diante de um comportamento nocivo – o qual pode proceder dos próprios pais, do melhor amigo ou do companheiro.[7]

  • Para estabelecer limites, primeiro reflita sobre como deseja ser tratado em um relacionamento, separando quais comportamentos estará disposto a aceitar ou não. Logo em seguida, exponha-os às pessoas que você ama. Tenha consciência de que pessoas que já foram abusadas emocionalmente no passado possuem mais dificuldade em determinar o que espera de um relacionamento. Portanto, será necessário ter uma conversa franca a esse respeito com uma pessoa de confiança.
  • Um bom modo para comunicar seus limites a alguém pode ser: “Eu gosto muito de você e de sua companhia, mas me entristece muito vê-lo parar de falar comigo de repente. Se continuar fazendo isso, serei obrigado a distanciar-me para não acabar me magoando demais”.

4 Cuide de si. Não importam os motivos que alguém possa ter tido para tratá-lo dessa forma, o importante é que você não se deixe abater. Procure fazer coisas para se alegrar e contra-atacar os efeitos negativos do tratamento do silêncio.[8]

  • Faça algum exercício, ligue para um amigo de confiança, vá ao parque ou a uma exposição. Todas essas são atividades que fazem bem e melhoram sua saúde emocional.
Método 3 – Superando um abuso emocional

1 Saiba que existe uma ligação entre o tratamento do silêncio e o narcisismo. O narcisismo é um transtorno de personalidade que leva seu portador a se aproveitar e a manipular aqueles à sua volta em benefício próprio. Portanto, caso a pessoa tenha o costume de dar um gelo nos outros com certa frequência, ela pode ter traços narcisistas.[9]

  • Se notar que anda se desculpando muito por coisas que não fez ou implorando ao outro para que fale com você, suas reações podem estar apenas entregando cada vez mais o controle da relação ao abusador.
  • Pode ser emocionalmente exaustivo e confuso se relacionar com um narcisista. Contudo, existem algumas técnicas que ajudam a lidar com esse tipo de pessoa.[10] Fazer terapia individual pode ser de muita ajuda para aprendê-las.

 

2 Melhore suas habilidades de comunicação com a terapia. Você pode fazê-la de forma individual, em casal ou em família – basta que haja interesse por parte de todos os envolvidos. Durante a terapia, o profissional identificará os papéis que cada pessoa exerce no ciclo de abuso emocional, e ajudará a interrompê-lo.[11]

  • Por exemplo, o terapeuta ensinará a vítima do silêncio a encontrar formas melhores de se expressar, usando mais frases com “Eu”, intercalando críticas com elogios e reservando horários para conversar e resolver as diferenças.
  • Por outro lado, ele também poderá ensinar o perpetrador a verbalizar mais seus pensamentos e sentimentos e a administrar melhor a frustração.

3 Cerque-se de pessoas que se comuniquem bem. Estar frequentemente sob controle do silêncio pode ter uma influência negativa na saúde e no bem-estar. Por isso, além de se dedicar a melhorar sua comunicação com o perpetrador do silêncio, procure, também, se relacionar com bons comunicadores.[12]

  • Esteja sempre com pessoas e familiares que o valorizem como pessoa. Diga a eles que seu relacionamento com outra pessoa tem sido frio e que você gostaria de convidá-los para passar um tempo junto com você.
  • Uma outra alternativa é tentar encontrar e participar de um grupo de apoio a quem foi vítima de abuso narcisista – peça recomendações a seu terapeuta.

4 Termine o relacionamento caso o manipulador se recuse a mudar. O tratamento do silêncio faz a vítima se sentir intimidada e indefesa, mas é apenas uma das táticas utilizadas para perpetrar abusos emocionais. Se você já tentou melhorar sua comunicação e, mesmo assim, o outro se recusa a reconhecer sua parte no abuso, é melhor pôr um fim na relação.[13]

  • Você pode dizer algo como: “Eu não consigo mais continuar o nosso relacionamento, pois sinto-me controlado e sem forças. Por mais que eu tente resolver o problema, você se recusa a mudar. Portanto, preciso fazer o que é melhor para mim.”.
  • Para se tornar mais autoconfiante no momento de terminar, pratique sua fala com um amigo ou com um terapeuta.

Coescrito por Paul Chernyak, LPC