Narcisismo na Velhice: Causas, Consequências e o Impacto em Grupos Associativos

por Júlio Dutra

O narcisismo na velhice é um fenômeno que merece atenção especial, visto que, além de suas implicações individuais, impacta significativamente a dinâmica de grupos associativos. Este artigo explora as causas e consequências desse traço de personalidade na terceira idade, com foco em como estas personalidades se manifestam em ambientes de interação coletiva como a Associação Nacional dos Aposentados e Pensionistas do IBGE (DAPIBGE).

Causas do Narcisismo na Velhice

Ao envelhecer, muitos narcisistas enfrentam uma dissonância entre a identidade que construíram e a realidade do declínio físico e social. De acordo com Ronningstam (2016), a velhice obriga essas pessoas a confrontar sua vulnerabilidade, o que pode resultar em sentimentos de vazio e depressão. Essa fase de vida intensifica a necessidade de validação externa, anteriormente sustentada por status, beleza e influência, mas que agora se encontra ameaçada pela passagem do tempo.

Consequências do Narcisismo na Velhice

As consequências do narcisismo na velhice são muitas vezes destrutivas:

  • Aumento da Hostilidade:  Sentimentos de perda de influência podem levar a reações agresivas e a um sentimento constante de vitimização (Ronningstam, 2016).
  • Isolamento Social:  Devido ao acúmulo de conflitos e afastamento de entes queridos, o isolamento se torna prevalente.
  • Dificuldade em Aceitar Ajuda:  A vulnerabilidade é interpretada como fraqueza, e qualquer forma de dependência é percebida como intolerável, intensificando o isolamento.

Narcisismo e o Contexto Associativo

Em grupos como a DAPIBGE, a presença de personalidades narcisistas pode ser prejudicial. Aqueles que difundem críticas infundadas e agressivas não só promovem ideias errôneas, como também fomentam discórdia e ódio. Esses indivíduos muitas vezes criticam a administração sem compreender o pleno esforço necessário para a gestão da associação, o que resulta em um ambiente divisivo e improdutivo.

Tais comportamentos são exacerbados pela resistência em admitir erros ou abrir mão da ilusão de controle que os narcisistas mantêm. Como ilustrado por Krizan e Johar (2015), as mudanças físicas e a perda de reconhecimento aumentam a inveja patológica, levando a manipulações emocionais que desestabilizam o coletivo.

O Narcisismo e o DAPIBGE

No contexto da DAPIBGE, observa-se que certos indivíduos caracterizados por traços narcisistas destilam críticas que não contribuem positivamente para o grupo. Esses indivíduos alegam insatisfação com a administração sem compreender plenamente o trabalho envolvido na gestão da associação. Isso resulta em:

  • Distinção entre Trabalho Real e Percepção Distorcida:  A percepção de que não trabalham efetivamente para a associação leva-os a uma condição de descontentamento baseado em entendimentos falhos.
  • Exaustão Psicológica e Social:  Aqueles que buscam constante validação podem não perceber o valor de um trabalho genuíno, resultando em exaustão e insatisfação pessoal.

 O Papel da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

A TCC oferece uma luz sobre como lidar com o narcisismo na velhice, propondo a reestruturação de crenças disfuncionais que sustentam a personalidade narcisista (Beck, 2021). Trabalhos focados na aceitação e na reformulação de autosseguranças podem reduzir o impacto do narcisismo. No entanto, muitos resistem a essa mudança necessária, devido à necessidade de preservar sua ilusão de grandiosidade.

O narcisismo na velhice, especialmente no contexto de grupos associativos, é um lembrete de como a busca incessante por validação pode conduzir a solidão e frustração. Promover autoconhecimento e valorizar relações genuínas são caminhos para evitar os efeitos destrutivos dessa condição. Por meio de abordagens terapêuticas adequadas, é possível mitigar seu impacto, promovendo um ambiente mais harmônico e produtivo em associações como a DAPIBGE.

Dr. Júlio Dutra, advogado, jornalista, escritor e Presidente do DAPIBGE, agosto de 2025

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

BECK, Judith S. Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2021.

KRIZAN, Zlatan; JOHAR, Omesh. Envy Divides the Narcissists: The Distinct Effects of Vulnerable and Grandiose Narcissism on Envy and Schadenfreude. Journal of Personality, v. 83, n. 2, p. 1-32, 2015.

PINCUS, Aaron L.; LUKOWITSKY, Mark R. Pathological Narcissism and Narcissistic Personality Disorder. Annual Review of Clinical Psychology, v. 6, n. 1, p. 421-446, 2010.

RONNINGSTAM, Elsa. Pathological Narcissism and Narcissistic Personality Disorder. Harvard Review of Psychiatry, v. 24, n. 5, p. 267-278, 2016.