A relutância dos médicos em discutir possíveis danos do sexo anal pode desamparar uma geração de mulheres jovens que não estão cientes dos riscos, escreveram duas pesquisadoras do Reino Unido em um artigo de opinião publicado em 11 de agosto no periódico The BMJ.
Lacunas ao discutir o assunto “expõem mulheres à falta de diagnóstico, tratamentos fúteis e outros danos decorrentes da ausência de orientação médica”, escreveram Dra. Tabitha Gana e Dra. Lesley Hunt, médicas dos Sheffield Teaching Hospitals NHS Foundation Trust e do Northern General Hospital, no Reino Unido.
Na opinião das médicas, os profissionais de saúde, principalmente os médicos generalistas, gastroenterologistas e coloproctologistas, “têm o dever de reconhecer as mudanças na sociedade a respeito do sexo anal entre mulheres jovens e de atender a essas mudanças com conversas abertas, neutras e sem julgamento a fim de garantir que todas as mulheres tenham as informações necessárias para fazer escolhas conscientes sobre sexo”.
Perguntar sobre sexo anal é prática padrão em ambulatórios de medicina geniturinária, mas é menos comum nos consultórios de clínica médica e de coloproctologia, apontaram.
Não mais um tabu
O sexo anal está se tornando mais comum entre os casais heterossexuais jovens. No Reino Unido, a prática de sexo anal heterossexual entre pessoas dos 16 aos 24 anos de idade aumentou de cerca de 13% para 29% nas últimas décadas, de acordo com dados de pesquisas no país.
O mesmo está acontecendo nos Estados Unidos, onde pesquisas sugerem que 30% a 44% dos homens e mulheres relatam ter feito sexo anal.
A motivação individual para o sexo anal varia. As mulheres jovens citam como fatores o prazer, a curiosidade, dar prazer aos parceiros do sexo masculino e a coerção. Até 25% das mulheres que experimentaram sexo anal relatam que foram pressionadas pelo menos uma vez, disseram a Dra. Tabitha e a Dra. Lesley.
No entanto, devido à sua associação com álcool, uso de drogas e múltiplos parceiros sexuais, o sexo anal é considerado um comportamento sexual de risco.
Segundo as pesquisadoras, também está associado a preocupações específicas de saúde, entre elas, incontinência fecal e lesão do esfíncter anal, que foram relatadas por mulheres que praticam o sexo anal. Em relação à incontinência, as mulheres correm maior risco do que os homens devido à sua anatomia particular e aos efeitos no assoalho pélvico de hormônios, gestação e parto.
“As mulheres têm o esfíncter anal menos robusto e menor pressão do canal anal do que os homens, e os danos causados pela penetração anal são, portanto, mais importantes”, apontaram a Dra. Tabitha e a Dra. Lesley.
“A dor e o sangramento que as mulheres relatam após o sexo anal são sugestivos de trauma, e os riscos podem aumentar se o sexo anal for coagido”, acrescentaram.
O conhecimento dos fatores de risco subjacentes e a realização de uma boa anamnese são fundamentais para o tratamento eficaz dos distúrbios anorretais, disseram as pesquisadoras.
A Dra. Tabitha e a Dra. Lesley se preocupam com o fato de que os médicos possam se esquivar de falar sobre sexo anal, influenciados pelos tabus da sociedade.
Atualmente, as informações do National Health Service (NHS) do Reino Unido sobre sexo anal consideram apenas infecções sexualmente transmissíveis, não fazendo menção a trauma anal, incontinência ou consequências psicológicas da coerção a fazer sexo anal.
“Pode não ser apenas a evasão ou o estigma que impedem os profissionais de saúde de falar com mulheres jovens sobre os riscos do sexo anal. Há uma preocupação genuína de que a mensagem possa ser considerada como crítica ou até mal interpretada como homofóbica”, escreveram as pesquisadoras.
“No entanto, ao evitar essas discussões, podemos estar falhando com uma geração de mulheres jovens, que desconhecem os riscos”, acrescentaram.
“Com melhores informações, as mulheres que querem sexo anal conseguiriam se proteger mais eficazmente de possíveis danos, e as que consentem com sexo anal relutantemente para atender às expectativas da sociedade ou para agradar parceiros poderiam se sentir mais capacitadas a dizer não”, disseram a Dra. Tabitha e a Dra. Lesley.
Fonte: Medscape